A facção criminosa que age dentro e fora dos presídios
paulistas pensou em criptografar dados de seus computadores para dificultar o
trabalho da polícia em identificar informações sobre a quadrilha. Gravações
telefônicas autorizadas pela Justiça às quais o G1 teve acesso também mostram
que o grupo planejou usar carros com blindagem para tentar resgatar lideranças
da organização de dentro de penitenciárias em São Paulo.
As conversas gravadas durante investigação do Ministério
Público Estadual ocorreram entre presos e criminosos que estão na rua. Após
três anos de apurações, o MP concluiu que o grupo controla 90% dos presídios de
São Paulo. No mês passado, os promotores denunciaram 175 acusados à Justiça e
pediram o isolamento dos 35 principais chefes do bando no Regime Disciplinar
Diferenciado (RDD). Os pedidos foram negados e o MP entrou com recurso.
Facção - estrutura e atuação (Foto: Arte/G1)
Em conversa de 15 de dezembro de 2011, o preso Abel Pacheco
de Andrade, o “Vida Loka”, fala com outro detento, Roberto Soriano, o “Tiriça”,
sobre a possibilidade de a facção passar a criptografar informações que estão
nos computadores do grupo. “Tem que fazer criptografado esses bagulhos, não
pode ficar vulnerável dessa forma não”, afirma um deles. Durante a conversa, é
citada a apreensão do computador de um dos integrantes da quadrilha durante a
prisão dele.
Em gravações telefônicas feitas em 2012, a facção foi pega
planejando usar armas e veículos blindados para resgatar os líderes da
quadrilha. Apelidado de “caminhada do cachorro-quente”, o resgate tinha como
alvo a Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, no interior de São Paulo. Para
arrebentar cadeados e grades, os criminosos falavam em usar alicates mecânicos.
Segundo a investigação, eles também pretendiam usar carros e caminhões com
blindagem durante o plano.
A ideia era realizar uma megaoperação de resgate, com o uso
de grande número de criminosos que estavam fora do sistema prisional e muitas
armas. Durante as gravações, os integrantes da quadrilha detalham a compra de
veículos que seriam usados no resgate dos chefes da facção e a chegada de “oito
fuzis AR-15”. “Já tem 10 (veículos) na mão, tem um grandão (que seria um
caminhão). Tem que comprar a caminhada de corte (alicate de pressão para cortar
grades e trancas), pelo menos uns quatro ou cinco”, dizem os criminosos nas
ligações interceptadas.
As investigações mostram que um dos principais objetivos da
facção é propiciar ações de resgate para os integrantes presos, principalmente
aqueles detidos durante as chamadas “missões” da quadrilha. Durante o
monitoramento das escutas, equipes das Rondas Ostensivas Tobias Aguiar (Rota)
foram acionadas e conseguiram evitar o resgate de um preso na região de
Campinas. Ele estava detido em Presidente Venceslau e seria transportado para
uma audiência em março de 2012 no Fórum de Sumaré, no interior do estado. Os
criminosos planejavam fazer o resgate durante o trajeto.
Presídios federais
Nas conversas telefônicas, os integrantes da quadrilha
demonstram preocupação com a possível transferência de detidos para presídios
federais. Um dos integrantes fala sobre a transferência de Roberto Soriano para
o Presídio Federal de Rondônia, em Porto Velho, ocorrida em novembro do ano
passado. “Tiriça” foi acusado de ordenar a execução de policiais no estado.
“Aquele negócio do Tiriça lá me deixou muito neurótico”, diz um dos criminosos
em uma ligação.
Os integrantes falam de um relatório sobre o tratamento
recebido pelo detento na penitenciária. “Aquela caminhada (carta) que nós
falamos pra você, da humilhação que o nosso irmão (pode ser o Soriano) sofreu
daquele lado lá (Porto Velho), toda aquele fita (relatório) que esta aí, teve que
ser destruída e nós vamos refazer pra vocês ter um entendimento. Nós ficamos
contentes que o irmão melhorou um pouco a situação dele do lado de lá, mas
mesmo assim a gente não tá ainda satisfeito”, diz um deles.
Em outra conversa, os integrantes discutem a ajuda às
famílias dos transferidos para presídios federais, por causa do alto custo com
as viagens. “Referente a esses meninos que podem estar indo lá pra PF
(Penitenciária Federal), fecharam numas ideias de dar uma chegada (fornecer
ajuda) em quatro moedas (R$ 4 mil) cada um”, diz um dos criminosos. “Tava
pensando no dobro disso daí que você falou. Mas tudo depende de quantos e de
quem”, responde o outro.
A transferência para presídios federais começou após o
anúncio de uma ação integrada de combate à violência firmada entre o governador
Geraldo Alckmin e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, em novembro do
ano passado. A decisão ocorreu depois de uma onda de violência em São Paulo.
Nos presídios federais, os detentos contam com duas horas de banho de sol por
dia, três horas de visitas de parentes por semana e visita íntima quinzenal,
com uma hora de duração. Os presos não têm acesso a jornais e televisão.
Fonte: G1
Postado em: 16/10/13
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