Intitulado "Pau de Arara", o protesto, nascido nas redes
sociais, teve início por volta das 7h, quando os manifestantes começaram a se
aglomerar na praça Rodolfo Fernandes, a Praça do Pax. Aproximadamente às 7h40 o
grupo iniciou a caminhada, seguindo em direção à avenida Augusto Severo. A
primeira parada dos estudantes foi na Câmara Municipal de Mossoró (CMM), de onde
seguiram para o Palácio da Resistência, sede da Prefeitura Municipal de Mossoró
(PMM).
Entoando gritos de protesto e levantando faixas que demonstravam toda
a indignação diante da precariedade do sistema de transporte público municipal,
os estudantes não foram recebidos por nenhum membro do Executivo mossoroense, o
que gerou ainda mais revolta entre eles. "O povo na rua, prefeita a culpa
é sua", "A juventude denuncia, a Prefeitura está vazia" eram as
frases mais ouvidas durante o período em que os manifestantes permaneceram em
frente ao Palácio da Resistência, das 8h40 às 9h10, aproximadamente.
"A prefeita se negou a nos receber em seu gabinete, já que os
portões estão todos trancados, o que é lamentável. Nós estamos cobrando um
direito, algo que já deveria ter sido efetivado, que é o Plano de Mobilidade
Urbana, que prevê uma série de benefícios, como a diminuição no tempo de espera
do transporte coletivo", destaca o presidente do Fórum Municipal da
Juventude, Átillas Raphael.
Por onde passava, o grupo chamava atenção dos curiosos, que
surpreendidos com a movimentação, registravam todos os passos do protesto.
"Acredito que essa manifestação seja uma repercussão do que está
acontecendo em todo o Brasil. A juventude está cansada da corrupção, dos
problemas na área da saúde, educação, segurança, e transporte público. Esse é
um grito que estava engasgado, o povo não aguenta mais tanta injustiça, e olhe
que isso é só o começo", relata a funcionária pública Lúcia Oliveira.
Como não houve sucesso na tentativa de dialogar com a chefe do
Executivo municipal, os manifestantes seguiram novamente em direção à CMM,
alguns cobertos pelas bandeiras do Brasil e de Mossoró, munidos de faixas que,
entre outras coisas, diziam: "Metrópole do futuro, onde está o transporte
público?". Ao chegarem à sede do Poder Legislativo, os estudantes ocuparam
as galerias do Plenário e tiveram direito à voz. Uma comissão formada por cinco
membros foi recebida, na sala da Presidência, pelos edis que estavam presentes
na sessão.
"Eu fico muito feliz em ver que os jovens, menos de uma semana
após a realização de uma audiência pública voltada para eles, ganharam as ruas
reivindicando seus direitos. Durante a reunião, os estudantes apresentaram sua
pauta, com três pontos principais: a inclusão na Lei de Diretrizes
Orçamentárias de uma emenda que garanta a implantação do Plano de Mobilidade
Urbana de Mossoró; a solicitação de que os vereadores pressionem o Executivo a
colocar em prática o Plano e a redução das passagens, garantida através da
Medida Provisória 671, que zera as alíquotas do Programa de Integração Social
(PIS) e da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins)
pagas por empresas de transporte coletivo urbano", relata o vereador
Lairinho Rosado.
Hoje, 19, os estudantes irão apresentar em plenário a pauta de
reivindicações e anunciam para amanhã, 20, um novo ato de protesto. Para Rayane
Andrade, presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade
Federal Rural do Semi-Árido (Ufersa), o movimento superou a expectativa dos
organizadores. "Não são só estudantes universitários que estão aqui, temos
alunos secundaristas, trabalhadores, representantes da sociedade civil
organizada, todos aqueles que sofrem com a péssima qualidade do transporte
público da cidade. É inaceitável que um município com mais de 200 mil
habitantes só possua 30 ônibus circulando diariamente, sem falar nos abrigos de
passageiros completamente inseguros, e tantos outros problemas que enfrentamos
diariamente", afirma a discente.
Movimento pacífico e tranquilo
Ao longo das mais de duas horas de protesto, nenhum grave incidente
foi registrado. De forma pacífica, ordeira, os manifestantes ocuparam as ruas
da cidade. Porém, em alguns momentos, fogos da chamada classe A, aqueles menos
perigosos, foram jogados no protesto, sem que os autores fossem identificados.
Para dar fluidez às vias, agentes municipais de trânsito foram
deslocados para os locais em que o movimento circulava, garantindo assim que o
tráfego já complicado de Mossoró não fosse congestionado.
Efeitos do Plano de Mobilidade Urbana não começaram a ser sentidos
Sancionado pelo Poder Executivo municipal em 18 de novembro de 2011, o
Plano de Mobilidade Urbana de Mossoró (PMUM) ainda não começou a surtir os
efeitos esperados pela população. A medida, que prevê uma série de ações para
solucionar os inúmeros problemas constatados no transporte público no
município, especialmente no setor de transporte coletivo, ainda não saiu
efetivamente do papel.
O Plano foi elaborado com base em trabalho científico da empresa Start
Pesquisa Consultoria Técnica Ltda., que formatou as mudanças a partir de
pesquisa de opinião pública popular, consultas à extinta Gerência Executiva de
Trânsito (hoje Subsecretaria de Trânsito e Transportes) e em audiências públicas.
O PMUM estabelece como um dos seus principais pontos a ampliação do
sistema de ônibus da cidade, que deverá ser composto por diversas linhas
funcionando de forma integrada, ou seja, permitindo que os usuários utilizem
mais de uma linha, com pagamento de apenas uma fatura. Essa medida foi
assegurada pela Prefeitura no mês de março deste ano, e um dia antes do
protesto que ocupou as ruas de Mossoró a PMM anunciou a criação de uma linha
integrada de ônibus para os universitários a partir de segunda-feira, 24. O
serviço vai atender a estudantes da Ufersa, Universidade do Estado do Rio
Grande do Norte (Uern) e Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do
Rio Grande do Norte (IFRN). Segundo a PMM, com a nova linha, um universitário
que sair do conjunto Santa Delmira, por exemplo, seguirá até um dos pontos de
integração, no Centro, e embarcará em um ônibus da Linha Universitária sem
nenhum custo adicional.
Os estudantes das três instituições contarão com ônibus coletivo a
cada período máximo de 20 minutos. A Linha Universitária vai contar, a
princípio, com três ônibus da empresa Cidade do Sol. "Não é suficiente,
essa medida não vai fazer com que a precariedade do serviço acabe. Essa ação da
Prefeitura soou como um engodo para que o protesto não fosse realizado, mas nós
não vamos parar o movimento", pontua a estudante Rayane Andrade.
Segundo o subsecretário de Trânsito e Transportes, Marlos Ciarlini, as
medidas contidas no Plano de Mobilidade estão sendo implantadas de forma
gradativa. "Nós conhecemos o problema, e estamos tentando solucionar. A
integração das linhas, por exemplo, já é uma ação que vai beneficiar não
somente os estudantes, mas também os trabalhadores, que poderão chegar ao
Centro no horário adequado, já que os ônibus não sairão de suas rotas",
explica
Outra medida prevista no Plano de Mobilidade é a realização de
licitações destinadas à operação dos serviços de transporte coletivo urbano,
onde a concessão seria realizada pelo município. Duas licitações nesse sentido
até foram lançadas, mas nenhuma empresa demonstrou interesse em participar do
processo. "Nós estamos contratando uma empresa para nos auxiliar na
execução do Plano e, consequentemente, na elaboração do edital destinado à
contratação de novas linhas, evitando assim que ocorram novas licitações
desertas", conta Marlos Ciarlini.
O Plano prevê ainda a redução na frequência média entre as viagens,
que hoje é de cerca 30/40 minutos, para 15 minutos, o que será possível,
conforme o auxiliar da Prefeitura, com a aquisição de novas linhas.
População sairá às ruas no sábado reivindicando fim da violência na cidade
No próximo sábado, 22, os mossoroenses irão protestar novamente pelas
ruas da cidade, desta vez cobrando melhores condições de vida, em especial no
quesito segurança pública. A mobilização "Chegaaaaa!", também nascida
nas redes sociais, será realizada a partir das 8h. A concentração será no
Memorial da Resistência de Mossoró (MRM), e, em seguida, os participantes
sairão em caminhada até a praça Rodolfo Fernandes, onde ocorrerá um ato
público. O protesto Chegaaaaa! vai contar com carros de som, e músicos locais
serão convidados para interpretar músicas relacionadas à paz.
Entre os pontos reivindicados pelos membros do movimento, está o
aumento no efetivo policial com a contratação de profissionais concursados;
aumento no número de viaturas para a ronda na cidade, monitoramento nas
estradas, bem como nas áreas de risco, policiamento ostensivo nas escolas
municipais e estaduais, entre outros.
Fonte: O Mossoroense
Postado em: 19/06/2013
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