Em 5 de maio
de 2011 o Supremo Tribunal Federal reconheceu a família homoafetiva, conferindo
aos casais homossexuais o direito à união estável. Esta decisão foi proferida
no julgamento da ADI 4277-DF e ADPF 132-RJ. Antes, a união estável era um
direito apenas do homem e da mulher, em razão do que dispunha o artigo 1.723 do
Código Civil. O Supremo Tribunal Federal (STF) afastou a expressão "homem
e mulher" da lei e permitiu a interpretação extensiva aos casais de mesmo
sexo.
Ao proferir
a decisão, o STF deixou expresso que o reconhecimento deve ser feito
"segundo as mesas regras e com as mesmas consequências da união estável
heteroafetiva".
Com a
aprovação do casamento gay, uma nova preocupação passou a tomar conta dos
grupos e entidades que defendem a união entre casais do mesmo sexo: a
discriminação e o preconceito. Os casos de violências passaram a tomar conta
das ruas, a ponto de tornar o Brasil lider do ranking mundial: em 2009, foram
contabilizadas 199 mortes; em 2010 o número chegou a 138 ocorrências. Vale
salientar que esse número pode ser bem maior, tendo em vista que vários crimes
acontecem na clandestinidade.
Mossoró
Em Mossoró,
por sua vez, a transformista Alana Hickmam, que é membra de uma entidade ligada
ao movimento gay, denuncia que o número de casos de homofobia vem acontecendo
frequentemente, principalmente em festas e boates da cidade. Ela reclama que
recentemente dois casos de discriminação estão sendo investigados pela polícia.
O primeiro
caso, conforme a transformista, aconteceu em uma festa na Estação das Artes,
durante um show, quando um segurança destratou-a e a ofendeu, quando ela
tentava falar com um artista.
“Eu estava
fotografando um show e no momento em que tentei acompanhar o cantor até o
camarim, fui agredida com palavras de baixo calão, por um guarda que fazia a
segurança da festa. Felizmente um amigo meu que vinha logo atrás filmou o
momento em que eu era ofendida pelo segurança. Denunciei o caso por meio do
disque 100, procurei a Delegacia da Mulher e a 1ª DP, no entanto, nada foi
feito até agora”, explicou Alana.
O segundo
caso recente envolvendo preconceito contra os gays, denunciado por Alana
Hickmam, aconteceu em uma boate, onde um travesti teria sido vítima de
violência por parte dos seguranças do local. “Minha colega estava dançando
quando em um dado momento de exaltação os seguranças não gostaram do
comportamento e a retiraram à força do estabelecimento. Antes de ser segurada
pelos dois braços e jogada na rua, os seguranças ainda deram dois choques na
minha amiga”, explicou.
A
representante do movimento gay disse que os dois casos já foram denunciados à
Polícia Civil para que fossem apurados, no entanto, devido à greve dos
policiais civis, que já dura mais de 40 dias, nada avançou ainda. “Quando
acabar a greve, vamos pressionar a polícia para agilizar os dois casos, não
podemos cruzar os braços diante de tamanha falta de humanidade”, concluiu a
transformista.
Cientista social diz que discriminação com homossexual, além de ser crime, deve ser combatida com severidade
Bacharel em
Ciências Sociais pela Unicamp, colaborador Brasil Escola, Paulo Silvino Ribeiro
escreveu em seu artigo semanal que na esteira do debate sobre a legalização da
união homoafetiva, tem-se também discutido a criminalização da homofobia, isto
é, tornar-se crime a manifestação de preconceito contra homossexual. Mas se a
intenção em promover a discussão é boa, por outro lado, a forma como vem sendo
colocada e defendida por aqueles que se dizem favoráveis à criminalização da
homofobia parece embocar numa contradição que também tem levantado polêmicas.
Em nome da defesa da diversidade sexual, cogita-se em tornar crime, por
exemplo, a fala e a manifestação pública de religiosos que pregam a
inconformidade do homossexualismo com suas convicções religiosas e
doutrinárias. Em outras palavras, religiões como o cristianismo (evangélicos,
católicos, entre outros) teriam seus líderes e fiéis cometendo crime ao
mencionarem que reprovam a homossexualidade e atos como casamentos homoafetivos
conforme suas fundamentações, que consideram sagradas.
Relação homoafetiva divide opiniões e mostra lado preconceituoso da sociedade
Recentemente
no Brasil, o STF aprovou a união civil entre pessoas do mesmo sexo. Várias
polêmicas vieram à tona transcendendo a discussão sobre casamento homossexual e
preconceito, convidando também à reflexão sobre liberdade de expressão
religiosa.
Dados do
IBGE apontam que no Brasil existem mais de 60 mil casais homossexuais, número
este considerável e que pode ser muito maior ao se considerar aqueles que
omitiram sua orientação sexual em razão do preconceito que enfrentam no dia a
dia.
Dessa forma,
do ponto de vista jurídico, esta lei vem ao encontro dos interesses de um grupo
social, o qual tem sua representatividade na sociedade e por isso deve ter suas
demandas e direitos assegurados pela lei.
Compete ao
setor jurídico, garantir a igualdade de direitos entre os cidadãos sem fazer
acepção de quaisquer características ou peculiaridades existentes e, neste
caso, sem se considerar a sexualidade.
De acordo
com o professor Da Silva, defensor do movimento gay, é uma conquista importante
no sentido de ampliar as garantias patrimoniais entre os homossexuais que vivem
em união estável, os quais, em caso de morte do companheiro ou companheira,
poderão, com a aprovação desta lei, usufruir legalmente de sua herança, assim como
já ocorre com todos os casais heterossexuais desde sempre. Dessa forma,
colocando a questão dos direitos sobre patrimônio como o ponto central da
discussão em torno desta lei, pode-se falar que a decisão do STF não
proporciona uma mudança radical na organização da sociedade brasileira, pois
não há restrições legais para que pessoas do mesmo sexo não tenham um
relacionamento afetivo, nem mesmo para que não morem juntas.
“A
constituição destas uniões já existe. Em outras palavras, esta decisão do Poder
Judiciário não traz a união homoafetiva como algo novo, mas sim garante sua
legalização e direitos outrora cerceados aos casais homossexuais brasileiros”,
salientou.
Para a dona
de casa Maria Antônia da Anunciação, 63 anos, a decisão do supremo soa como uma
afronta aos mandamentos de Deus, em que o homem ficou para casar com a mulher e
a mulher com o homem. “Sou uma pessoa muito religiosa, sempre segui a minha
convicção de fé e acredito que o casamento entre pessoas do mesmo sexo, é um
pecado muito grande”, comentou.
Caso do professor que anunciou morte retrata efeitos do preconceito
Na última
sexta-feira, o professor de inglês Oseias Alves, que era transexual, anunciou
que iria pôr fim à própria vida no Facebook e cumpriu a ameaça pouco tempo
depois, cometendo suicídio em um quarto de motel, às margens da BR-304, no
conjunto Abolição III. Um dos motivos alegados por pessoas próximas ao
professor foi o preconceito que ele vinha sofrendo devido a sua orientação
social.
O professor
descreveu na carta deixada em sua última postagem na rede social que estava
cansado dos julgamentos feitos pelos outros. "Não ousem me julgar, porque
cansei dos julgamentos e das pedras que sobre mim foram atiradas", retrata
em trecho do texto.
Amigos
próximos ao professor revelam que há tempos ele estava angustiado e incomodado
com o tratamento discriminatório que vinha recebendo. Um amigo, que preferiu
não se identificar, contou que ele já havia revelado o desejo de morrer.
"O meu amigo estava deprimido. Eram muitas situações difíceis que ele
vinha enfrentando, principalmente no seu local de trabalho, que não o aceitava
como ele era", disse.
Fonte: O Mossoroense
Postado em: 22/09/13
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